sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Por falar em zonas de conforto...

Estive dois dias em Cortém e voltei de rastos. Cheguei a casa cansada, de carro e depois de muito meterem o dedo na ferida e rodarem dei de mim. E dei de mim como há muito não dava. Chorei, falei, chorei, chorei, chorei. Há muito que tinha decidido que não queria voltar para lá. Há muito que digo que não voltava para o Entroncamento, ou, a viver como vivi no Entroncamento nem que me pagassem, e voltei. Durante dois dias, com demasiado tempo para pensar, a única coisa que via era que estava a voltar ao que prometera a mim mesma que não voltaria a acontecer. Durante dois dias dormi duas noites num quarto que não é meu, onde não me incomoda dormir mas ao qual não me habituo. Eu não sei dormir ali. Eu já não sei viver assim. Durante dois dias limpei o que nunca fica limpo. Durante dois dias matei aranhas e afastei lesmas que no dia seguinte estavam lá outra vez. Durante dois dias cozinhei num fogão sujo porque me recuso a limpar para que os outros sujem, e recusei-me a pôr a minha comida num frigorifico que não é frigorífico de tão imundo que está. Durante dois dias não pus a minha louça no meio da louça que diz estar lavada, quando nem sequer há detergente da loiça. Durante dois dias comi atum, massa e batatas porque não tinha mais nada e a carne do congelador era pouca e não é minha. Durante dois dias decidi que não quero aquilo para mim. Que não quero viver assim. E que a casa que também é minha não está habitável. Não é para mim. Durante dois dias não estava a brincar sempre que pensava que estou rodeada de gente maluca e que, infelizmente, por muito que eu não queira... a família não se escolhe. Depois de tudo isto, depois de chegar e fingir que estava tudo bem, depois de muita lágrima correr, depois de deitar tudo cá para fora, depois de prometer que não voltaria a acontecer disseram-me que todos estes anos tinham dado frutos. Que estavam orgulhosos. Que apesar de eu estar a chorar, ela, minha mãe-drinha, estava a sorrir, estava muito contente que eu não gostasse de lá estar. Que tinha sido para isto que me educaram. Que era bom não querer viver assim. Que estava pronta. Podia comprar um T1. Arranjar trabalho. E continuar. Porque adulta, já sou. E eu sei que sei viver de outra forma. Numa casa normal. Numa casa como esta. Numa casa como a que quero para mim. Citadina. E limpa. 
É engraçado como fazer reset faz milagres. Eu sempre gostei desse botão. E é por isso que se chora tanto...

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