Estaria a mentir se te dissesse
que não sinto a tua falta. Que gostaria que, depois do que me fizeste, nunca
mais me dirigisses a palavra. E que me sinto confortável com o facto de isso
ter acontecido e assim continuado. Não estaria a dizer a verdade se me dissesse
arrependida com a mensagem em jeito de braço a torcer que tu não deste. E
quando não me dão uma unha que seja pelo braço que torci parece que não vale a
pena. Não que signifique que desisti de voltar a tentar falar contigo, digo a
obter resposta da tua parte, simplesmente - reforça o reflexo no espelho que todos os
dias me lembra “Não tens necessidade disso.” – deixa de valer a pena. Ainda dói
não perceber nada do que se passou na tua cabeça para agires e reagires assim.
E, agora que penso nisso, estou a escrever para pelo menos duas pessoas que amei.
E que me foram tanto. Escrevo para duas pessoas que fizeram parte da minha
história de vida e la souberam moldar como ninguém teve o descaramento de
fazer. Fecharam-me os olhos, ensinaram-me a ver a história pelo lado positivo e
quando eu achava que estava tudo a correr nos conformes, mesmo que passasse
muito pouco tempo de quando eu achava que não estava a correr nada bem,
desapareceram. E eu, má, ia amar-vos eternamente. E má, já vos amava com amor
sem querer mais nada e sem pedir mais nada. Mas eu fui mal ensinada a amar. Eu
amo sem barreiras, amo por instinto e amo com o coração. A vida ensinou-me a selecionar
as pessoas que me merecem com o amor de coração e as que ficam com o amor da
razão que nem sempre tenho. São as que coloco em primeiro lugar que acredito
que estejam sempre lá, a amar-me sem pedir nada em troca. Era nessas que vocês
estavam. E, talvez seja por isso que, é com essas que eu também não conto a
100% porque como alguém disse, “Se procuras uma mão disposta a ajudar-te... Encontrá-la-ás
na extremidade do teu braço.” e, acrescento, a única pessoa que tenho a certeza
que nunca me vai abandonar sou eu. Sim, sou má. Amo em espelho. Amo da forma
como gostaria de ser amada. E amo muito, intensamente, incondicionalmente e por
inteiro. Penso hoje, talvez, que seja má de amor. Que talvez por isso as
pessoas me amem com “ses” e de pé – mas sempre com “e ses” – atrás. Que
condicionem a empatia para comigo, e que só me amem colocando-se ocasionalmente
no meu lugar, o lugar do amado, com a cabeça. Talvez as pessoas que amem da forma como
racionalizam que devem amar, amem bem melhor. Mas eu sou má com amor. Amo por
instinto, sem barreiras, com o coração.
Aprendi com os anos que das duas uma: Ou se tenta encontrar alguém que ame assim (e são poucos os que se dão ao
desgaste, - à pressão do amor poder estragar os planos das nossas próprias
vidas, ao trabalho do amor poder obrigar a levantar o bufunfo do sofá em
alturas impróprias, à chatice do amor precisar de presença regular e constante –
e os que dão não acreditam em “para sempres” e, geralmente, para além de fazerem
disso justificação, não se aguentam) e nos começamos a afastar das pessoas que
não correspondem às nossas necessidades, correndo o risco de (especialmente no
meu caso que sou exigente q.b.) irmos ficando mais sós. Talvez por
isso eu também não acredite em “para sempres”, mas em “enquanto durares” e “que
seja por muito tempo”. Sei-me exigente até à última, ambiciosa e
perfeccionista. Dada mas difícil, que chega a roçar o demais. E também sei que
não me mudaria por nada nem ninguém, mas que tenho a qualidade e defeito de me moldar
e adaptar com uma facilidade extraordinária ao que quer que seja.
Ou se aprende a amar o
conveniente, o que dá menos trabalho, a amar com ses, a amar o que é tido como
possível, num amor calculado, sem possibilidades de nos maçarmos, a amar sem
promessas, a amar com talvez, a amar sabendo-se que pode ser que não dê jeito
ir até ao fim do Mundo para ver o outro feliz, a amar colocando-nos a nós em
primeiro lugar sob que circunstância for, a amar com condições e com a razão. A
amar em resposta ao espelho dos outros e como eu – mesmo quando me meto a mim
em primeiro lugar - não consigo fazer. Mas eu sou má com amor.
Acredito que não são os outros
que estão errados, que não devemos pôr ninguém à nossa frente nem saltar
por
cima de quem quer que seja por amor ou pelo resto. E que, depois de
tudo, o caminho é sempre
em frente, quem tiver que caminhar connosco pela estrada fora deve estar
ao
nosso lado, sem precisar de correr atrás de nós ou à nossa frente para
que a
coisa dê certo. Acredito que assim sejamos menos emoção, menos eus, mas,
e
oxalá que resulte, mais serenos, mais fáceis e melhores de amor. Talvez
mais
felizes. No meio de tudo isto acredito que se essas pessoas, lendo isto
ou não,
saírem quando eu estiver na rua se sentam não na minha mesa mas - ao meu
lado -
perto de mim, sorriam, cumprimentam e metam dois dedos de conversa como
se
nunca tivessem desaparecido. Acredito que é isso que define amizade
verdadeira e que essa não desaparece, que fica, por muitas voltas e
mudançam que aconteçam no ano e na vida de cada um de nós. Já me
aconteceu uma vez, podia
repetir-se. Afinal, vá lá, é Natal!
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